"Já em casa esta sexta-feira à noite, José Sócrates terá comido uma refeição italiana. O ex-primeiro ministro, agora em prisão domiciliária, terá encomendado massa e pizza. Só uma das refeições que encomendou lhe terá chegado às mãos, porque um dos entregadores foi impedido de fornecer a refeição, pela PSP, por não estar identificado." - Nova Gente.
A Apologia de Sócrates
"Vós tendes frequentemente e em todo o lado ouvido dizer que um signo divino e demoníaco se manifesta em mim, aquilo que Meleto fez escárnio um dos seus objectivos principais de acusação. Isso começou desde a minha infância; é uma especíe
de voz que, quando se faz ouvir, me desvia sempre do que me proponho
fazer, mas nunca me incita a isso. É ela que se opõe a que eu me ocupe
da política, e creio que é de uma extrema felicidade para mim que ela me
desvie disso. (...) "caro amigo! Quando quis atravessar o regato despertou em mim o "daimónion" e manifestou-se o sinal costumeiro. Ele sempre me impede de fazer o que desejo. Pareceu-me ouvir uma vóz que vinha cá de dentro(...)" Platão - Apologia de Sócrates - 399 a.c.
"no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias
tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite
prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume
ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência
".
"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ..."
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
Heterónimo de Fernando Pessoa.